BIKEPACKING COM CRIANÇAS
Pra muitos ciclistas viajantes, o nascimento dos filhos, significa deixar de viajar e, em alguns casos, até as pedaladas casuais começam a se transformar em passeios de carrinho pelo bairro. E se fosse possível viajar de bike com a família? Então, se liga!
O primeiro passeio de bicicleta da minha filha, ela tinha 3 meses. Carreguei ela naquelas mochilinhas estilo canguru pela vila em que morávamos. Não diria que recomendo mas ali comecei a ver que seria possível juntar as duas coisas: família e bike. Começava minha pesquisa sobre o que as outras famílias pelo mundo faziam. Foi então que descobri todo um novo segmento que inclusive já tinha nome: Tykepacking.
Bom, minha filha foi crescendo, cada vez mais pesada e aquela mochilinha já estava com os dias contados. Já com um ano, mais desenvolvida e com o corpo mais firme, cheguei a conclusão que um trailer seria o ideal. Pensando na segurança e conforto dela, adquirimos um e com algumas adaptações, estávamos prontos pra encarar nossa primeira noite fora. Criamos uma rota tranquila, alugamos um quarto no destino e então partimos. Aquele fim de semana, foi o divisor de águas. A gente não ia precisar parar de pedalar, pelo contrário, descobríamos que era de fato possível cair na estrada.
Os rolés pela região em que morávamos se tornavam cada vez mais frequentes e nos preparávamos para encarar a viagem que ia mudar tudo, de novo. Embarcamos para o Uruguai e o plano era cruzar o país pela costa. O maior desafio dessa viagem foi como mantê-la entretida durante os deslocamentos. As paradas que normalmente durariam 10 minutos, às vezes chegavam a durar uma hora. Era difícil convencer a pequena a voltar pro trailer quando estávamos parados em um parquinho cheio de crianças. O que ajudou muito foi ter levado alguns brinquedos. Um ursinho, uma bola e um livro de feltro interativo.
Mas nessa viagem aprendemos muito mais. Nos vinte e dois dias que viajamos, aprendemos que o mais importante é respeitar o ritmo dos pequenos. Sempre. Se quiser parar, tem que parar, se quiser comer, tem que comer. Se quiser brincar, aí os pais tem que tirar forças do além mesmo depois de um dia puxado de pedal. Mais importante ainda foi fazer com que ela se sentisse como parte essencial da equipe. Era ela quem pegava as compras das prateleiras no mercado, era ela quem pegava os gravetos pra fogueira.
Ah, eu disse que estávamos acampando? Pois então, não há nada que me realiza mais que a possibilidade de proporcionar essa experiência do contato com a natureza, ensinar a montar a barraca, interação com crianças e lugares diferentes, enfim, se no futuro ela vier a fazer qualquer uma dessas coisas, já somos vitoriosos.
O trailer, apesar de bem confortável, acabou sendo temporariamente aposentado. O substituímos por uma cadeirinha. Queríamos ir mais longe, andar em locais mais difíceis e ter mais agilidade, então vamos falar um pouco das diferenças.
CADEIRINHA VS TRAILER
Mas afinal qual é melhor? Apesar de perder no conforto e espaço, a cadeirinha ganha na agilidade e peso, principalmente em travessias e trechos com muita areia ou trilhas fechadas. É ideal pra uma viagem que será dividida em trechos curtos em que nem dá tempo da criança dormir. Uma adaptação indispensável, é um guarda sol e óculos pra criança. Esse guarda sol, nós adaptamos do carrinho de bebê. Foi só parafusar na cadeirinha e tcharam! Temos um guarda sol retrátil! Outra adaptação foi uma almofada porque passar algum tempo sentado numa cadeirinha de plástico, não me parecia das coisas mais confortáveis.
Já no trailer, a criança está 100% protegida dos elementos. Vento, terra, água não entram. Se a criança cansar dá até pra se ajeitar lá dentro e puxar aquela soneca. Tem um espaço extra pra mais bagagem. É ideal pra longas viagens, pedais que duram o dia inteiro. Mas é bom se lembrar que o peso aumenta consideravelmente. Uma adaptação bem sucedida que fizemos foi acoplar um recipiente de camelbak que permitiria que ela tivesse água à disposição todo o tempo. Outro ponto negativo é o tamanho. Além da largura, que pode ser um problema em estradas sem acostamento, o comprimento faz com que a bicicleta se transforme praticamente em uma carreta, então é preciso ter mais cuidado nas curvas.
De qualquer maneira, nossa recomendação é de, aos poucos, criar esse hábito de pedalar, com paradas pra observar as plantas, as montanhas, os rios. Fazer uma viagem de fim de semana pra ver como a criança se sai, o que faltou, o que não foi tão necessário. À medida que a família for tomando gosto pela coisa, fica tudo mais fácil. O difícil é sair de casa.
Nossos relatos de viagens estão no www.bicicli.co e frequentemente também postamos fotos no www.instagram.com/biciclico
Qualquer dúvida, comente aí que a gente responde! Nos vemos na estrada!