MANUAL DO BIKEPACKER DE PRIMEIRA VIAGEM


AFINAL, O QUE É BIKEPACKING?

Basicamente, bikepacking é a mistura de bicicleta e camping minimalista. É a liberdade do mochilão com a autonomia de uma mountain bike. É explorar as estradas, trilhas e caminhos menos percorridos, carregando apenas o essencial. Arriscamos dizer que as viagens com mountain bikes deram origem ao termo. É a alma do bikepacking. Apesar do conceito de viajar de bicicleta existir praticamente desde quando elas foram inventadas, o termo bikepacking começou a ser usado para definir viagens levando apenas as necessidades básicas em uma bicicleta que fosse leve o suficiente para explorar as trilhas, muitas vezes remotas, durante vários dias. As rotas podem variar em distância, desde 20km saindo de sua casa, micro aventuras de final de semana e até mesmo expedições de semanas ou meses. 



QUAL BICICLETA DEVO ESCOLHER?

Pode-se dizer que qualquer bicicleta pode ser adaptada pra bikepacking. Sendo assim, o tipo de bicicleta vai afetar diretamente no tipo de rota. Pra viajar pela Estrada Real, por exemplo, uma bicicleta gravel ou rígida daria conta do recado sem maiores problemas. Mas a mesma bicicleta gravel não se sairia tão bem pelas areias da Rota do Descobrimento, onde seria mais aconselhável uma mountain bike com pneus mais largos. Certifique-se de usar uma bicicleta capaz de lidar com o tipo de terreno que você queira explorar.

Cada bicicleta abre um novo mundo e cabe a cada ciclista identificar qual estrada quer percorrer. A melhor bicicleta para usar é aquela que você já tem. Se você atualmente já usa uma mountain bike que te atenda, é provável que com poucas modificações, ela seja a bicicleta perfeita. Até porque com a liberdade do bikepacking, é mais fácil amarrar mochilas à bicicleta, sem depender de suportes e bagageiros. Se esse não for o seu caso, existem mountain bikes de cromoly aro 26 por ótimos preços no mercado livre ou olx. São bicicletas resistentes e perfeitas para começar. Um bikefit é recomendado para adaptar a bicicleta ao uso pretendido e evitar surpresas e lesões.


O MAIS DIFICIL É SAIR DE CASA

Um equívoco comum é dizer que bikepacking é caro. Embora investir em equipamentos de qualidade nunca seja uma má idéia, certamente não é uma necessidade para se aventurar nesse mundo. Comece usando o que você possui e escolha um lugar pra passar uma noite. Junte uns amigos, desenhem uma rota de uns 40 quilômetros e saia num sábado já mentalizando o acampamento. Descubra o que você realmente precisa através da experiência. A partir daí, entenda quais equipamentos você vai precisar com o tempo. Lembre-se sempre de aplicar a conduta de Não Deixar Rastros.

 

Pra se arriscar em uma micro-aventura saindo no sábado e voltando no domingo, aqui temos uma lista pra você passar a noite. Fique a vontade para acrescentar ou excluir itens:

-Saco de dormir

-Colchonete ou isolante térmico

-Travesseiro

-Barraca (dependendo das condições, dispensável)

-Roupa pra dormir (leve um gorro)

-Lanterna de cabeça

-Passatempo (livro, jogos)

-Kit com escova de dentes

-Roupa extra (sempre troque de roupa quando chegar ao acampamento)

-Faca ou canivete

-Isqueiro

-Comida (se precisar preparar algo, recomendamos fogareiro, e utensílios)

-Panos ou toalhas de papel e lenço umedecido.

-Ferramentas, kit de remendo, camara de ar e bomba.

-Capa de chuva (porque nunca se sabe rs)

-Kit primeiros socorros

-Protetor solar


COMO EU LEVO ESSAS COISAS?

O principal acessório que popularizou o bikepacking foi certamente a bolsa de selim. Poder substituir bagageiros e racks barulhentos fez com que carregar os equipamentos se tornasse mais leve e por consequência, chegar com mais facilidade a lugares de difícil acesso. É possível distribuir a carga nas bolsas de quadro, selim e guidão sem perder muito da mobilidade. A maioria das bolsas são fabricadas por pequenas empresas, de forma artesanal mas também há muitos ciclistas desenvolvendo as próprias. Comece pela bolsa de selim e a de guidão. Posteriormente adquira uma pro quadro(que varia de tamanho pra cada bicicleta). Como alternativa, analise as possibilidades de usar o que você já tem ou adaptar equipamentos destinados a outros fins.

Pra iniciantes, sacos-estanque pra pescaria funcionam como ótimas bolsas pra uma micro aventura,  amarradas ao guidão e ao selim. Para viagens um pouco mais longas, se você já tem alforges, talvez esses sejam a solução. Mas se o plano for explorar singletracks técnicas, melhor levar as bolsas amarradas. Certifique-se que estão firmes e de que não irão influenciar na dirigibilidade. Nessas situações você tem que se divertir e não ficar sobrecarregado com equipamentos. Evite, sempre que possível, ter que usar uma mochila nas costas. Ao longo do dia, o peso vai incomodar e no fim do dia suas costas estarão molhadas.

Claro que com o tempo, cada um vai sentindo necessidade em fazer o upgrade em alguma parte do equipamento. E assim como no mochilão, no bikepacking há uma relação entre equipamentos leves e preços altos. Mas talvez seja o equipamento mais leve que vai te permitir encarar situações que você talvez não enfrentaria com uma bicicleta mais pesada. De novo, descubra quais são as suas prioridades através da experiência. Eu, por exemplo, quando comecei a viajar em família, senti necessidade de uma barraca mais leve.

Para viagens de vários dias, existem alguns itens essenciais que devem ser cuidadosamente considerados. É necessário um bom kit de ferramentas e reparos para solucionar quaisquer problemas mecânicos que possam surgir. E não saia de casa sem um kit de primeiros socorros. Andar de bicicleta geralmente envolve andar por terrenos remotos e acidentados que podem resultar de difícil acesso aos serviços de resgate. Esteja preparado e não corra riscos desnecessários. Tenha sempre um telefone celular, leve um powerbank e considere carregar um rastreador, especialmente se viajar sozinho. Uma boa dica também são pastilhas de cloro caso seja necessário filtrar água.


BICICLETA E CAMPING

Pra gente do Bikepacking Brasil, viajar de bicicleta significa dormir em uma barraca ou rede. Pra nós, as duas coisas estão conectadas. A liberdade de poder dormir em qualquer lugar nos permite descobrir lugares que não conheceríamos se estivesse em um hotel ou pousada. Boa parte do equipamento que carregamos é de camping e a nossa ideia de bikepacking é exatamente essa conexão entre o ciclista e a natureza. Barraca, isolante térmico inflável, saco de dormir e travesseiro inflável. A estrutura da barraca vai na bolsa de quadro, o restante do equipamento na bolsa de selim ou guidão. Em algumas ocasiões substituímos a barraca e o isolante por uma rede e ai nos basta o saco de dormir. Claro que dependendo da viagem, às vezes acaba sendo necessário dormir em uma pousada, hotel, warmshower, mas para a verdadeira experiência bikepacking, recomendamos fortemente o acampamento.


VALORIZE OS “ARTISTAS” LOCAIS

Fortaleça a economia local. Valorize a cultura local. Não importa onde você esteja, faça questão de comprar dos produtores locais, mercados locais. Interaja com as pessoas dos lugares por onde passar. São através desses encontros que surgem as melhores dicas de onde acampar, qual cachoeira visitar ou qual a trilha mais remota. Pra nós do Bikepacking Brasil, boa parte da experiência de viajar de bicicleta está diretamente ligada à arte dos encontros e a troca de conhecimentos e saberes. Escute as histórias locais, aprenda sobre as diversas culturas, costumes e lembre-se que somos todos diferentes.


O QUE USAR?

Antes de tudo, viajar de bicicleta significa estar sentado no selim por várias horas durante o dia. Um bom selim, certamente fará diferença. Camisetas de lã merino são recomendadas. São mais caras mas funcionais. Não retém odor, secam rápido, se adaptam a temperatura do corpo e podem ser usadas casualmente, fora da bike. Mesma coisa com a roupa de baixo. Se lã merino está fora do orçamento, escolha camisetas de poliamida ao invés de polyester. Camiseta de algodão, só pra dormir. Pra pedalar são péssimas. Encharcam, retém odor e demoram pra secar. Roupas de ciclismo podem ser uma boa escolha se as jornadas forem longas. Apesar de não serem muito úteis casualmente, são boas para um dia inteiro no selim.Na bagagem vai também uma calça de trekking, meias confortáveis, uma capa de chuva que também funciona como corta vento e em lugares que a temperatura vai chegar abaixo de zero, troco a bermuda por uma calça tipo tactel pra pedalar, uma blusa segunda pele boa, uma jaqueta de pluma pra ficar no camping, uma calça e blusa manga longa térmica pra dormir, um par de luvas pra pedalar e um par pra ficar no camping. Sempre que necessário lave tudo com sabão de coco, de preferência, que tenha no rótulo a indicação de tensoativo biodegradável. Para os pés, uso uma sapatilha que mais se parece um tênis e é ela que uso pra tudo. Também levo um chinelo pra ficar mais à vontade no camping.


COZINHA

A disponibilidade de combustível é o fator mais importante na escolha de um sistema pra cozinhar; portanto, saber onde você vai é fundamental. Se você estiver pedalando por partes do mundo com uma forte cultura de camping e, portanto, muitas lojas e campings ao ar livre (por exemplo: Europa, América do Norte ou Nova Zelândia), poderá encontrar facilmente botijões de gás butano / propano para fogareiros. Se você estiver indo mais longe ou lugares remotos por períodos mais longos, é provável que haja álcool desnaturado e combustível líquido (gás branco, querosene, gasolina e diesel).

Hoje existem inúmeras formas de cozinhar durante as viagens. Há quem use um sistema multicombustível, há que use fogareiro à gás, fogareiro a álcool e há quem não leva nada e prefere comer em restaurantes pelo caminho. Cada sistema tem suas vantagens e desvantagens e cabe a cada um entender através da experiência qual será o melhor. Eu particularmente uso um mini fogareiro a gás. Levo caneca, prato, panela e uma frigideira. O prato é de alumínio e pode servir de panela se necessário. Tudo se encaixa e fica em um tamanho bem compacto. Levo algo para usar de corta-vento para conseguir acender o fogareiro nas mais diversas condições climáticas. Levo várias sacolinhas ziplock pra guardar todo tipo de alimento. Às vezes substituo o conteúdo de alguma garrafinha por macarrão. Ao meu ver, a desvantagem do meu kit é ter que carregar um mini botijão de gás que ocupa um bom espaço e se acabar, correr o risco de não conseguir encontrar pra comprar, mas como vantagem, é um sistema que nunca me deixou na mão.

Algumas pessoas preferem fogareiros à álcool ou até mesmo feito de latinha. Também funcionam bem e o etanol pode ser um bom combustível. A grande vantagem é o tamanho compacto e a facilidade de se conseguir o combustível em praticamente qualquer lugar. Porém comigo já falhou em dias de muito vento. Outra desvantagem é ter que carregar uma quantidade considerável do combustível.

E somando todas as possibilidades, existem os kits multicombustiveis. Os fogareiros multicombustíveis são do tipo mais complicado e caro, projetados para pressurizar e vaporizar, como o próprio nome diz, muitos tipos de combustíveis líquidos, incluindo parafina (ou querosene), combustível para aviação (querosene com aditivos), diesel, gasolina, e gás branco. É claro que dois desses combustíveis são extremamente comuns na beira da estrada – gasolina e diesel – e é isso que faz do fogareiro multicombustível uma escolha comum para expedições de longo curso em muitos países ou continentes.

Mas cabe a cada um identificar qual tipo de fogareiro é mais adequado para você em sua viagem.


OFICINA E EXTRAS

Para viagens mais longas e expedições, na parte da “oficina” levo um link da corrente, cabo de marcha e de freio, oleo, pastilha de freio, três raios, câmara de ar, silver tape, fitas lacre tipo hellermann e ferramentas para praticamente todas as partes da bicicleta. Na maioria das viagens nunca preciso usar nada. Mas quando preciso, é bom saber que consigo resolver qualquer problema.

Equipamentos adicionais que podem ser necessários incluem cadeado, gps, capacete, camera fotográfica e tudo mais que você julgar importante. Tenho um amigo que sempre leva uma cafeteira italiana. É um trambolho mas ele a ama.

E pra finalizar, o que não mencionamos. Leve água. Melhor sobrar do que faltar. 


PLANEJANDO E NAVEGANDO

Temos todo um tópico destinado a como planejar sua rota. Nosso artigo cobre desde como escolher o melhor caminho até qual app usar durante os deslocamentos caso seu telefone seja o seu mapa. Aqui no escritório gostamos tanto do planejamento quanto da execução então dividimos com vocês a nossa metodologia. Saiba mais como Criar sua Rota

 

Seguindo as informações que compartilhamos nesse guia, o sucesso de sua viagem só depende de você. Pode ser que no mês que vem você já estará planejando a próxima ou pode ser que você odeie. Mesmo que dê tudo errado e você decida nunca mais pedalar, pelo menos vai ter história pra contar e dizer que descobriu por conta própria. Boa viagem!!!

 

 

 

 

 

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